Ronnie Von chega aos 80 anos além do ‘Pequeno príncipe’ que rivalizou com o ‘Rei’ Roberto Carlos na Jovem Guarda


Também conhecido como apresentador de TV, o cantor fluminense tem discografia que inclui trinca de cultuados álbuns gravados na onda psicodélica. ♪ ANÁLISE – É difícil imaginar um príncipe octogenário. Por isso mesmo, é quase incrível que Ronnie Von esteja festejando hoje 80 anos. Nascido Ronaldo Nogueira em Niterói (RJ), em 17 de julho de 1944, o artista fluminense talvez seja mais conhecido atualmente como apresentador de programas de TV como Manhã do Ronnie, atração que comanda na RedeTV! desde 2022.
Contudo, quem conhece a história da música brasileira sabe que Ronnie Von também marcou época como cantor no universo pop nativo entre as décadas de 1960 e 1980. Em cena desde 1965, o artista ganhou projeção nacional em 1966 com a gravação de Meu bem, versão em português, escrita pelo próprio Ronnie, de Girl (John Lennon & Paul McCartney, 1965), canção dos Beatles.
Começou ali, no reino encantado da Jovem Guarda, a ascensão do Pequeno príncipe, epíteto dado a Ronnie pela apresentadora de TV Hebe Camargo (1929 – 2012) por conta da beleza escultural do cantor-galã que, não por acaso, até estrelaria novela em 1977 no papel do Príncipe Cid Baluarte III.
Ronnie Von fez história. Ainda em 1966, Ronnie já virara apresentador de TV. Foi no comando de um programa de auditório que o artista sugeriu ao então debutante grupo formado por Arnaldo Baptista, Rita Lee (1947 – 2023) e Sérgio Dias – trio então intitulado Os Bruxos – que trocasse o nome para Os Mutantes.
Ronnie fez essa sugestão porque lia o livro O império dos mutantes (1958), do escritor francês de ficção científica Stefan Wul (1922 – 2003). E o resto foi uma história que deixou o nome de Ronnie para sempre associado aos Mutantes, a ponto de o virtuoso guitarrista do grupo, Sérgio Dias, ter feito o arranjo da música Do jeito que tá (Isolda e Ronnie Von, 1984) para o álbum Ronnie Von, lançado pelo cantor em 1984 no embalo do estouro do single editado em 1983 com o sucesso radiofônico Cachoeira (Luiz Guedes e Thomas Roth, 1981), música que a cantora Rosanah havia lançado três anos antes sem repercussão.
Cachoeira foi o último grande sucesso de Ronnie Von como cantor, um êxito comparável ao auge do artista nos anos 1960. A propósito, consta nas páginas das revistas de fofoca da década de 1960 que o Príncipe, mesmo pequeno, incomodava muito o então Rei da juventude, Roberto Carlos.
Rivalidades à parte, o fato é que, do ponto de vista musical, Ronnie nunca foi páreo para Roberto. Até porque a discografia de Ronnie é composta por fases desconexas. Tanto que, um ano depois de Meu bem, o segundo maior sucesso de Ronnie Von nos anos 1960 foi uma sentimental marcha-rancho, A praça, gravada a contragosto pelo cantor em 1967 por insistência do compositor da música, o marqueteiro Carlos Imperial (1935 – 1992).
Na sequência, o Pequeno príncipe fez movimento surpreendente, embarcando na onda psicodélica da época. Cultuada com o tempo, a trinca de álbuns lisérgicos do cantor é formada por Ronnie Von (gravado em 1967 e lançado em 1968), A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais (1969) e A máquina voadora (1970).
Na década de 1970, Ronnie Von emplacou dois hits nas rádios. O tema afro-brasileiro Cavaleiro de Aruanda (Tony Osanah) galopou para as paradas em 1972 numa época em seria impensável acusar o cantor de apropriação cultural.
Cinco anos depois, a canção Tranquei a vida, parceria de Ronnie com Tonu Osanah, liderou as playlists de 1977, ano em que Roberto Carlos – já entronizado na preferência popular como o Rei – sepultou a rivalidade com o príncipe dos anos 1960 e gravou música de autoria Ronnie Von, Pra ser só minha mulher.
A partir da década de 1990, a discografia de Ronnie Von perdeu impulso e o artista passou a priorizar os trabalhos como apresentador de TV. Mas, descontado o culto da fase psicodélica, a imagem do hoje octogenário artista mais presente no imaginário do universo pop brasileiro ainda é a figura do príncipe do pequeno mundo de Ronnie Von.
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